terça-feira, janeiro 03, 2006

A DEPRESSÃO CHEGOU ONTEM AOS PRÓS E CONTRAS

Não chegou em surdina, mas anunciada. Trazida mais pelos comentadores do que pela Fátima, espraiou-se pelos ditos e reditos e consagrou-se no “optimismo dramático” com que Boaventura S. Santos encara o 2006 português.

Muito se poderia dizer sobre os comentários produzidos no programa, feitos por gente que apreciamos. A verdade é que não trouxeram novidade, mas as visões e soluções repisadas, na maioria comuns às do impasse na correspondente discussão europeia. O desfecho, Fátima, não podia ser outro. Notei-lhe tristeza com o rumo da conversa (estarei enganado?), talvez porque entende, e bem, que o seu programa devia ser um ponto de partida para a construção e não para o desalento.

O desfecho não podia ser outro, escrevia, porque o assunto exige análise mais funda. Como diria Sérgio, o voo fácil na análise do que condiciona o social português (e europeu), não nos é útil, não nos permite tirar pistas para os males de que padecemos. Não repetirei o que sobre assunto já fui escrevendo neste blog, ao longo de 2005. Mas gostaria de chamar a atenção para algo que me parece ter escapado à conversa de ontem e gostaria de fazer também uma sugestão à Fátima.

O que me parece ter escapado à conversa, foi a necessidade de destrinçar muito bem o problema português do problema social europeu. Embora haja semelhanças com o que acontece na Europa mais desenvolvida, a verdade é que o nosso atraso em relação a ela é substancial, por um lado, e as características sociais e culturais que nos imobilizam são mais vincadas que as correspondentes europeias, por outro. O que tem, obviamente, consequências importantes no pensar das soluções.

Quanto à sugestão à Fátima, resulta ela de uma constatação simples. Nos seus programas vejo sempre os mesmos comentadores, que já conhecemos de outras bandas. Da mesma forma que vejo sempre as mesmas pessoas à frente de municípios, de associações empresariais, de sindicatos, eu sei lá! Não há mais gente neste país que possa ajudar? Não há estrangeiros a viver no país que possam dar a sua perspectiva? Se nos programas são realmente necessários especialistas, pois convide alguns. Mas convide também gente nova, de qualidade, que a há, certamente. Contribua, pois, para o renovar tão necessário das elites deste país.