sexta-feira, janeiro 20, 2006

AS REFLEXÕES DE SÃO JOSÉ ALMEIDA

Não se trata, penso, de um santo, mas tão só de uma cronista do Público, que reflectiu na edição de hoje deste diário. Respigo as reflexões que mais interessam ao que venho.

Primeiramente, a seguinte: “… que se prende com as consequências do campear de um individualismo feroz na sociedade portuguesa pós-25 de Abril, sem dimensão social e sem espírito público, responsável pela relativização ética da política portuguesa e pelo alastrar de uma promiscuidade corrupta que mina a sociedade.”

Logo de seguida: “… a inexistência de um projecto ou melhor de projectos de esquerda para a sociedade portuguesa. A esquerda portuguesa tem-se limitado a viver superficialmente da máquina do Estado à sombra de um clientelismo boçal − no que, aliás, convenhamos, é igualada pela direita − e sem cuidar em fazer a mínima reflexão teórica, sem se preocupar em debater coisa alguma, sem investir na busca de um modelo de desenvolvimento para o país, que ultrapasse a receita gasta e estafada introduzida por Cavaco Silva no início dos anos 90, a qual assenta exclusivamente nas obras públicas. Um projecto que repense e dinamize o papel do Estado, sem os mitos propagandísticos neoliberais de que é possível existir uma sociedade sem regulação estatal, ou que esta deve ser reduzida à sua ínfima expressão, numa espécie de reedição contemporânea do lassez faire lassez passer em que o lucro é o único valor. Quando vai a esquerda enterrar os cantos de sereia do pós-modernismo?”

Tem razão a cronista. Mas a constatação é estafada, lida e relida, dita e redita, a nada conduz.

Nada tenho de pessoal contra esta cronista, nem contra tantos outros que desta forma polulam na nossa imprensa. A verdade, porém, é que o país necessita de melhor. Precisa de cronistas que constatem coisas novas, que se abalancem noutras perspectivas e, sobretudo, que não se deixem arrastar pelo voo fácil da constatação superficial e analisem mais profundamente as causas do constatado e lhe proponham soluções.