terça-feira, junho 26, 2007

2 QUESTÕES SUGERIDAS POR UM PRÓLOGO DE J. L. BORGES

A leitura do prólogo feito por J. L. Borges à obra Mystical Works, de E. Swedenborg[1], homem que considera um dos mais brilhantes súbditos da Carlos XII, sugeriu-me duas questões.

A primeira tem a ver com o paralelismo que faz entre cabalistas e Swedenborg, que consideram cada homem como o universo inteiro, ou seja, um espelho de Deus, feito à sua imagem e semelhança, como esclarece. Recordo-me de Pessoa, quando constata nada (poder) ser, mas conter todos os sonhos do mundo... E, afirmam os discípulos, Siddartha Gautama já o dizia mais de dois mil anos antes, pretendendo que a viagem ao nosso interior nos traz o conhecimento do universo.
Oh Heráclito! Tudo muda? Parece haver verdades que transcendem o próprio tempo.

A outra questão é a de Borges chamar a atenção que, para Swedenborg, não basta ser justo para obter a salvação. Há também que ser inteligente e que ser artista, pretendendo-se com este último atributo referir a posse de uma elevada sensibilidade e a capacidade de a exprimir. Damásio diria que os dois últimos quesitos são as consabidas vertentes racional e emocional da inteligência, pelo que bastava então alegar somente a necessidade desta.
A salvação resultaria assim do ser justo e do ser inteligente. Sendo contudo a inteligência necessária ao procedimento recto, ela seria o principal pilar da salvação.
Pessoalmente parece-me que, quer Swedenborg primeiro, quer Borges depois, esquecem a necessidade da simplicidade para se alcançar a salvação. Falo daquela simplicidade que é fruto da sabedoria e da humildade e, sobretudo, do imenso trabalho que ela requer.
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[1] Swedenborg, E., Mystical Works, New Jerusalem Church, New York