sábado, dezembro 01, 2007

GREVE PÚBLICA E CARVALHO DA SILVA

No jornal da noite da RTP2, esquecido do valor de uma greve numa sexta-feira, último dia do mês de Novembro. Quando a desonestidade intelectual se interioriza, não se repara nela. Só na dos outros (que não deixa obviamente de também existir!).
FOME HOJE: UM NOVO CALDO

“O empobrecimento súbito de famílias habituadas ao bem-estar é cada vez mais sentido. Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, refere que 30% de todos os pedidos de ajuda são feitos por pessoas com rendimentos acima da média nacional.”


Expresso, 1 de Dezembro de 2007

A fome mais a vergonha de a ter. Ambas pela mão da vertigem do consumo.

Consumo não contido, antes promovido.

A herança de séculos: a burguesia marítma a “comer as migalhas que caem da mesa da Europa”. A partidocracia, a “alta finança”, a (des)construção civil, a vigarice e o demais.

O aumento e a democratização do saber. O bottom up: “Que mil flores floresçam”. A rede. A decadência da Europa top down, da Europa centralista de Napoleão.

A globalização e os “vasos comunicantes” entre países ricos e países pobres.

A poluição e a contaminação do mundo, e do que escrevo.

quarta-feira, novembro 28, 2007

O “POLITICAMENTE CORRECTO” (PC)

No meu pensar, o PC era uma procura, postiça ou artificial, da correcção e respeito para com os outros, escamoteando a investigação aprofundada das questões em causa. Tratava-se da busca da igualdade de género, sem cuidar de averiguar aquilo em que pode existir e aquilo em que é de perseverar e aprofundar a diferença; tratava-se do combate à xenofobia, ocultando que os principais xenófobos são os governantes que descuram a criação de condições para a inserção dos imigrantes; tratava-se de “respeitar” a democracia, evitando a necessidade de medidas firmes para a manter no longo prazo; etc; etc.

Aqui há uns tempos, em conversa ajantarada com alguns colegas, cheguei à conclusão de existir uma extensão semântica do PC, que me era alheia. Referi eu ter-me constado que o político X teria recebido uma pasta com uns dinheiros (destinados ao partido?), quando um dos meus colegas, num tom notoriamente PC, se pretendeu afastar de tal boato(?). Senti-me um imperdoável malandro por dar seguimento a tais boatos(?).
O tempo passou, mas este episódio insistiu em perseguir-me, como se algo de dissonante existisse. Debalde procurei convencer-me que tal se devia à minha sensação de culpa pela boatopropaganda.
Um dia destes fez-se luz: o PC convém a muitos políticos para encobrir as suas manigâncias. A técnica é simples: ao transformar-se a manifestão de uma suspeita na manifestação duma acusação, aquela passa a ser “politicamente incorrecta”, inadequada para ser transmitida.

De acordo com o ex-Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, em Portugal não haveria mais que uns 10% de políticos corruptos. PC!

Valha a verdade, até simpatizo com o Sr. Dr. Jorge Sampaio e, que me conste, o colega a que acima aludi não é figura da política. Para além disso, nesta extensão semântica, o PC também se revela postiço. Serve os desonestos, ilude os bacocos.

terça-feira, agosto 14, 2007

O TEU ABRAÇO, MARGARIDA

Chorei depois de falar com a memória que tenho de ti. Recordei o dia em que me deste um abraço especial, um longo e estreito abraço. Nunca o esqueci. Atribuí o repetir da sua lembrança a uma certa angústia, à angústia de não ter sabido ou não ter podido corresponder-lhe.

Hoje percebi que me abraçaste muito para além desse meu entendimento. E, por isso, chorei.

Sei agora que acreditaste então ter-me compreendido. Que juntaste bocados do meu kharma passado e que acreditaste teres-me visto. Que sentiste uma compreensão nítida e desejada do meu ser, uma compreensão de tudo o que o justificava a teus olhos. Que julgaste possuir-me. E daí a imensa solidariedade e todo o amor de filha naquele longo abraço.

São de júbilo as minhas lágrimas. E publico-as. E quero louvar-te a constante demanda dos que tomaste como amigos. A demanda da amizade incondicional.

terça-feira, junho 26, 2007

2 QUESTÕES SUGERIDAS POR UM PRÓLOGO DE J. L. BORGES

A leitura do prólogo feito por J. L. Borges à obra Mystical Works, de E. Swedenborg[1], homem que considera um dos mais brilhantes súbditos da Carlos XII, sugeriu-me duas questões.

A primeira tem a ver com o paralelismo que faz entre cabalistas e Swedenborg, que consideram cada homem como o universo inteiro, ou seja, um espelho de Deus, feito à sua imagem e semelhança, como esclarece. Recordo-me de Pessoa, quando constata nada (poder) ser, mas conter todos os sonhos do mundo... E, afirmam os discípulos, Siddartha Gautama já o dizia mais de dois mil anos antes, pretendendo que a viagem ao nosso interior nos traz o conhecimento do universo.
Oh Heráclito! Tudo muda? Parece haver verdades que transcendem o próprio tempo.

A outra questão é a de Borges chamar a atenção que, para Swedenborg, não basta ser justo para obter a salvação. Há também que ser inteligente e que ser artista, pretendendo-se com este último atributo referir a posse de uma elevada sensibilidade e a capacidade de a exprimir. Damásio diria que os dois últimos quesitos são as consabidas vertentes racional e emocional da inteligência, pelo que bastava então alegar somente a necessidade desta.
A salvação resultaria assim do ser justo e do ser inteligente. Sendo contudo a inteligência necessária ao procedimento recto, ela seria o principal pilar da salvação.
Pessoalmente parece-me que, quer Swedenborg primeiro, quer Borges depois, esquecem a necessidade da simplicidade para se alcançar a salvação. Falo daquela simplicidade que é fruto da sabedoria e da humildade e, sobretudo, do imenso trabalho que ela requer.
_______________
[1] Swedenborg, E., Mystical Works, New Jerusalem Church, New York

sexta-feira, maio 25, 2007

JANTARADA E SEQUELA

Ontem jantei com o passado. Com amigos ou conhecidos que era suposto já não ver há umas dezenas de anos. Um generoso leitão, acompanhado segundo os costumes, leitão que eu nunca vira, acompanhou-nos enquanto pôde, até se ir, digamos, esgotado.

Fui para a cama pesado. Devo ter escrito, noite adentro, enquanto cochilava, uns dizeres. E de manhã dei comigo a pensar que a guerra é mais filha da memória e que a paz é mais filha do esquecimento. Não sei se estou mal disposto, não sei se estou esperançoso.

domingo, maio 20, 2007

EM VENEZA

Veneza parada na água e no tempo. No anoitecer da chegada, de supetão, malas por desfazer, desaba uma tempestade prenha de relâmpagos. E fizemos amor na janela aberta sobre a ria mar…

Poderia não teres sido tu. Poderia perder-se a cumplicidade que também fazia o nosso amor. Então, seria diferentemente belo. Mas sempre belo.

domingo, abril 22, 2007

“LEITURAS EM VIAGEM” (à Matosinhos?)

1. Salão nobre da Câmara de Matosinhos, onze e três quartos. Era suposto Eduardo Lourenço tecer algumas considerações sobre as ditas leituras.

A sala está meia cheia, em quarto minguante. Resultado de um marketing que só parece funcionar para o celulóide político como noutras terras pequenas por essa Europa fora? Sim, não nos inferiorizemos: por lá também há gente pequena como por cá (embora talvez em menor proporção). Mas Eduardo Lourenço merecia mais.

Ele discursa uma prosa poética sobre o tema durante uns quinze ou mais minutos. A perfeição do que ouvia desviou-me a atenção do tempo. E para gáudio da parca e arrebanhada plateia, disse que fora em Matosinhos que vira o mar pela primeira vez.

Guilherme Pinto, o autarca presidente do concelho, disse pouco, exerceu bem o atributo da simplicidade, ou esta será mesmo da sua natureza, mas ficou-lhe bem.

2. Biblioteca Florbela Espanca e centro cultural anexo, pelas catorze e trinta.

Uma exposição de desenhos, uma de acrílicos com colagens e uma de lindos olhares em caras negras fotografadas. Nem um catálogo sobre o que se podia ver...

Uma mesa redonda em que o tema era o da viagem escrita de Jacques Kerouac, On the Road. Exceptuando a seriedade e a poesia de Ondjaki, foi a vulgaridade, o improviso e a piada fácil e tosca. Uma afronta à criatividade e à honestidade. O medo de que persistam em insultar a minha inteligência, afasta-me decididamente de ir a outras conferências.

sábado, abril 07, 2007

A LUA, SARA

Agarra a lua
com os olhos.
Não os deixes fugir.
E, se uma nuvem,
que querias passageira,
insistir em a esconder,
arrasta-a para o coração e
continua sempre
a sonhar com ela.

C. Marques Pinto
GOSTAVA DE ESCREVER EM ÁGUA

Gostava de escrever na água, com o indicador, com o mindinho, com os outros dedos, sabendo que o texto seria de suaves ondas e sabendo que nele não caberia a doçura nem a aspereza do verbo, desse verbo que nos faz e que nos isola.

Gostava de escrever na água, com os olhos, os milhares de páginas que rasguei antes de as ter escrito.

Gostava de escrever na água, com a razão, o que fica da busca que me faço, do tudo e do nada que sou.

Gostava de escrever na água, com o coração, os meus sonhos e o meu ser, mais os encontros e os afagos das húmidas musas.

Gostava de escrever a minha vida na água, com o meu corpo, ao sabor do acaso e ao meu sabor.

C. Marques Pinto

segunda-feira, abril 02, 2007

sexta-feira, março 23, 2007

COMENTÁRIOS AO QUE DIGO
(COMMENTS)

Desde a adopção da nova versão do "Blogger" que os comentários colocados não aparecem, apesar de ser deles avisado por correio electrónico ... Desculpem a deficiente qualidade do Blogger.

(Since the adoption of the new Blogger version, the comments people intend to post did not appear but I receive Blogger e-mails telling me about them ... Sorry for the Blogger bad service.)

quinta-feira, março 15, 2007

SONHEI COM UMA MULHER

“Sonhei a minha vida, ou foi um sonho?”
Walter von der Vogelwide (poeta austríaco)

Sonhei com uma mulher
que comigo desse
longos passeios ao ar
a ver o mar
a ver o jardim sem fim
sob os nossos passos

Sonhei com uma mulher
que me desse um amor
para juntar ao meu e
partir sem ir
ao encontro de uma
velhice afastada

Sonhei com uma mulher
cujo luxo fossem
rosas vermelhas a brotar
entre lençóis mais
alvos de amor
do que da cor

Hoje sei que
as mulheres
os homens
e o mundo
são realmente
feitos de sonhos.

C. Marques Pinto

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

sábado, fevereiro 24, 2007

SOLIDÃO 1

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

De uma entrevista do Chico Buarque

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

O NOVO PROCESSADOR DA INTEL

Leio no Jornal de Negócios que a Intel, a maior produtora mundial de processadores para computadores, anuncia ir lançar no mercado, dentro de cinco anos, um microprocessador capaz de realizar um trilião de operações por segundo. Uma coisa que, nuns poucos de milímetros quadrados, faz o trabalho de uns 600 m2 de microprocessadores, de um modelo de há uns dez anos, acrescenta o referido periódico.

Mas porquê só dentro de cinco anos? Supondo que poderia lançar o microprocessador no mercado, já no próximo mês, teriam de existir programas (software) requerendo tal velocidade de processamento, o que não parece acontecer actualmente e nos anos mais próximos.

O mercado que fez desabrochar o computador, ou seja, o que gerou receitas para a sua auto sustentabilidade, não foi o dos equipamentos destinados ao cálculo científico, mas antes o dos equipamentos destinados a processar informação − texto, imagem − construindo conhecimento.

A ser assim, poderemos dizer que o estado de avanço das aplicações informáticas de uso generalizado − é aí que estará a autosustentabilidade da produção e da comercialização de um tal microprocessador − que requererão tais velocidades − como sejam o tratamento do discurso oral e a tradução em tempo real, por exemplo − ainda é precário. Há que acelerá-los, a bem de uma melhor comunicação entre os homens. É uma janela de oportunidade.

Era vulgar dizer-se que a tecnologia (hardware) ia à “frente do homem”. Talvez possamos começar a dizer que também vai à “frente do software”.

Ou talvez tudo isto seja uma mera especulação, e os cinco anos se justifiquem pelas limitações a nível do hardware, ou seja, na construção do próprio microprocessador.
DORMITÓRIO

A NÃO FACILIDADE EM PESSOA

Não sou fácil. Nunca serei fácil.
Não quero poder ser fácil.
Para além disso, tenho dentro
de mim toda a solidão do mundo.