sábado, abril 07, 2007

GOSTAVA DE ESCREVER EM ÁGUA

Gostava de escrever na água, com o indicador, com o mindinho, com os outros dedos, sabendo que o texto seria de suaves ondas e sabendo que nele não caberia a doçura nem a aspereza do verbo, desse verbo que nos faz e que nos isola.

Gostava de escrever na água, com os olhos, os milhares de páginas que rasguei antes de as ter escrito.

Gostava de escrever na água, com a razão, o que fica da busca que me faço, do tudo e do nada que sou.

Gostava de escrever na água, com o coração, os meus sonhos e o meu ser, mais os encontros e os afagos das húmidas musas.

Gostava de escrever a minha vida na água, com o meu corpo, ao sabor do acaso e ao meu sabor.

C. Marques Pinto

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