domingo, abril 22, 2007

“LEITURAS EM VIAGEM” (à Matosinhos?)

1. Salão nobre da Câmara de Matosinhos, onze e três quartos. Era suposto Eduardo Lourenço tecer algumas considerações sobre as ditas leituras.

A sala está meia cheia, em quarto minguante. Resultado de um marketing que só parece funcionar para o celulóide político como noutras terras pequenas por essa Europa fora? Sim, não nos inferiorizemos: por lá também há gente pequena como por cá (embora talvez em menor proporção). Mas Eduardo Lourenço merecia mais.

Ele discursa uma prosa poética sobre o tema durante uns quinze ou mais minutos. A perfeição do que ouvia desviou-me a atenção do tempo. E para gáudio da parca e arrebanhada plateia, disse que fora em Matosinhos que vira o mar pela primeira vez.

Guilherme Pinto, o autarca presidente do concelho, disse pouco, exerceu bem o atributo da simplicidade, ou esta será mesmo da sua natureza, mas ficou-lhe bem.

2. Biblioteca Florbela Espanca e centro cultural anexo, pelas catorze e trinta.

Uma exposição de desenhos, uma de acrílicos com colagens e uma de lindos olhares em caras negras fotografadas. Nem um catálogo sobre o que se podia ver...

Uma mesa redonda em que o tema era o da viagem escrita de Jacques Kerouac, On the Road. Exceptuando a seriedade e a poesia de Ondjaki, foi a vulgaridade, o improviso e a piada fácil e tosca. Uma afronta à criatividade e à honestidade. O medo de que persistam em insultar a minha inteligência, afasta-me decididamente de ir a outras conferências.

2 comentários:

Anónimo disse...

Depois de ler a sua "construtiva" crítica à iniciativa da Câmara de Matosinhos, na qual eu também estive, pergunto-me se realmente esteve lá ou se se enganou de local??

Dada a sua inteligência ser tão elevada, pergunto porque não foi convidado para uma das mesas da referida Literatura em Viagens?

Carlos Marques Pinto disse...

1. O anonimato mostra medo e/ou embaraço, o que nunca é bom. Nem com o Salazar o utilizei.

2. Não sinto, sinceramente, que tenha sido deselegante para os organizadores nas apreciações que fiz. Antes fui realista e esperava assim contribuir para uma melhoria das suas futuras actividades. Resta-me lamentar que não tenha conseguido perceber isso.

3. Infelizmente, não me enganei no local. Estive com prazer na sessão de abertura e em algumas outras sessões a contra gosto, para ajudar "a fazer número", ou seja, a ajudar a remediar a escassez de algumas plateias. E não considero ter perdido tempo, porque creio ter assim ajudado um pouco.

4. Nunca afirmei a minha inteligência "ser muito elevada". Aqui confesso, publicamente, que embora possua boas capacidades de cálculo numérico e de inteligência dita "espacial", sei possuir bastantes limitações em termos de inteligência emocional, questão que sempre dificultou o existir e que procuro ir melhorando em cada dia.

5. Não fazia sentido nenhum convidarem-me para qualquer mesa deste evento, já que não sou escritor nem crítico, mas um mero cidadão não vendido ao que quer que seja, único atributo que muitos outros me invejarão.


Para outra vez, não receie dar-se a conhecer: ao fim e ao cabo, vimos todos do pó, somos todos irmãos, apesar dos “mas” e, um dia, ao pó retornaremos. Passe bem.