sexta-feira, dezembro 09, 2005

TANTO DE MEU ESTADO ME ACHO INCERTO

Tanto de meu estado me acho incerto
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.

E tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao céu voando;
N’uma hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um’hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando;
Respondo que não sei, porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

LUÍS DE CAMÕES



Com calor
Tremo de frio
Tão depressa choro
Como rio

Tudo abarco
Nada aperto
Em terra
Voo

A alma
É-me fúria
Os olhos
São-me um rio

Espero
Desconfio
Desvario
Acerto

Mil anos
São uma hora
Mil anos
Sem hora alguma

Erro
Sem caminho
Sem saber
Erro

E se da causa
Cuidar
Erro só
Por te amar

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