sexta-feira, dezembro 02, 2005

PROJECTOS DE VIDA

No passado dia 30 de Novembro, Carlos Mota Cardoso presenteou-nos, entre outras, com algumas reflexões sobre a interiorização dos acidentes do viver como causa das angústias e propôs a adopção de um projecto de vida como panaceia. A questão que se coloca é a de como projectar a vida, em tempos de mudança acelerada e em que a idade média de vida que se preconiza para os meus alunos é de 150 anos.

Proponho uma achega à dificuldade: acrescentar um s − não projecto de vida, mas antes projectos de vida −. Desde os anos de 1960 que se reconhece ter deixado o futuro de ser uma mera projecção do passado. Em cada dia ele surge-nos como uma constante surpresa, como uma soma de roturas face ao passado. Um projecto de vida, que é um plano, não pode assim privilegiar o nosso anterior percurso como fonte de inspiração; hoje, um plano de base sólida atenta ao que o futuro tem para nos oferecer, de bom e de mau.

E é neste sondar das oportunidades e dos escolhos que antevemos, e nas forças e nas debilidades da nossa situação actual, que devemos procurar fins, e depois caminhos para os perseguir. E assim construiríamos o nosso projecto de vida, não fora que as circunstâncias mudem tão rapidamente, continuadamente minando os alicerces dessa construção. Resta-nos então o contínuo refazer do projecto inicial, ou seja, o contínuo elaborar de projectos de vida.

Mas aqui, repõe-se a questão da eventual angústia daí advinda. E a única resposta que encontro é a de sermos suficientemente sábios no perscrutar do futuro, esforçando-nos por nos alijar das nossas miudezas quotidianas e passadas, por forma a descortinar para o futuro tendências menos transitórias, menos de curto prazo, por assim dizer, que assegurem uma maior estabilidade ao projecto de vida a gizar. Sem nunca abdicar da nossa capacidade em o moldar no futuro. De toda a forma, este exercício transporta-nos a uns, para os braços da metafísica, e a outros, para os da religião. Ou não?

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