quarta-feira, fevereiro 01, 2006

A CULTURA NACIONAL, CAUSA PRIMEIRA (3)

3. Componentes da cultura nacional que importa mudar

Aborde-se agora o que considero as características mais inadequadas do povo português face ao momento histórico que atravessa.

A cultura portuguesa foi particularmente dissecada e debatida, a partir do século XIX, por homens de cultura e escritores. Actualmente, existem estudos internacionais que a comparam com a de outros países.

Sabemos hoje uma das características fortemente vincadas da nossa cultura é a dificuldade em lidar com a incerteza do que pode acontecer no futuro, vulgarmente dita como aversão ao risco.
Esta é a razão por que temos dificuldade em planear: é que planear implica o estabelecer de objectivos, estados que se pretendem atingir no futuro; o português arreceia-se de a tal se arriscar e com tal se comprometer; prefere deixar andar, supor que o vai acontecer amanhã é o mesmo que aconteceu ontem; o resultado é o ter de desenrascar, normalmente com custos mais elevados. À escala nacional, eu diria que é o que explica a nossa situação económica neste momento: as classes dirigentes, desde 1985, não planearam em termos estratégicos o futuro da nação, não estabeleceram os grandes objectivos nacionais em termos de sobrevivência e prosperidade, subordinaram-se aos interesses instalados − interesses estes que são necessariamente interesses do passado e, por isso, muitos deles não adequados às necessidades futuras −, deixaram andar e, agora, parece querer desenrascar.
Sabemos que as empresas bem sucedidas, a partir dos anos de 1960, passaram a efectuar o seu planeamento, não tanto em função do passado, mas mais das ameaças e das oportunidades que anteviam no seu futuro. E para o fazer, desenvolveram metodologias adequadas. Tal deveu-se ao crescente aumento do conhecimento humano e, particularmente, às tecnologias de informação e de comunicação, os reais facilitadores da globalização. Tal implicou que cada empresa deparasse sistematicamente com novos produtos concorrentes, com o encurtar dos respectivos ciclos de vida e, também, com novos concorrentes que se apresentavam vindos de algures. Ou seja, o futuro tinha deixado de ser para ela um mero prolongamento do passado como até então o fora.
Hoje, este fenómeno, estende-se a toda a sociedade: o futuro comanda cada vez mais as nossas acções no presente. E, contudo, a nossa cultura, é cunhada, como vimos pelas nossas anteriores vivências, pelo passado. Assim, temos de mudar mais frequentemente e mais profundamente, mas a nossa cultura dificulta-o. As empresas, nomeadamente as estado unidenses, investiram no investigar de como se deve lidar com a resistência que a cultura coloca à mudança, e hoje existe um corpo de conhecimento razoável sobre como o fazer.
Colocada a dificuldade do português em lidar com a incerteza do futuro e compreendido o importante que é agir no presente mais em função dele, no mundo actual, compreende-se a necessidade melhor a necessidade imperiosa de acelerar a mudança desta nossa componente cultural.
(continua)