quinta-feira, fevereiro 02, 2006

A CULTURA NACIONAL, CAUSA PRIMEIRA (4)

3. Componentes da cultura nacional que importa mudar (continuação)

Outras importantes características também fortemente vincadas da nossa cultura, já enunciadas por um Verney, por um Antero de Quental, por um António Sérgio, e por vários escritores e ensaístas do século passado são a excessiva dependência homem português e o seu elevado grau de colectivismo. Por um lado, passivo, submisso, dependente, nunca assumido − Jorge de Sena dizia que “o homem português nunca cortou o cordão umbilical” −, característica designada por Hofsted como feminilidade. Por outro, colectivista − significando-se com tal que ele procura a protecção de grupos que lhe defendam os interesses[1] −.
A feminilidade alia-se e potencia a já referida dificuldade dele lidar com o futuro.
O elevado colectivismo indu-lo a constituir grupos que visam mais o defender-se do futuro, que a agir para o aproveitar ou para o procurar influir. Este colectivismo, que também se observa em elevadas proporções noutros povos, como o japonês[2], não é de molde a aproveitar o actual evoluir das sociedades. Na realidade, as sociedades mais individualistas, como a sueca, a australiana e a estado unidense, podem, porque permitem um evoluir mais flexível, em termos darwinistas, responder melhor às profundas alterações provocadas pelo elevado crescimento do conhecimento. Talvez que este factor não seja alheio à estagnação da economia japonesa a partir dos anos de 1990.
Também aqui importa acelerar a mudança destas componentes culturais.

Seria importante mudar outras características culturais, mas, em meu entender, com um menor impacto no nosso futuro enquanto nação.
(continua)

[1] Os povos do norte da europa e os anglo-saxónicos são mais individualistas, significando este termo que cada um assume nas suas mãos o seu futuro, sem necessidade de recorrer ao apoio do estado, família ou grupos de interesse. António Sérgio designava esta atitude de singularismo, optando por designar o colectivismo por comunitarismo.
[2] As razões para o colectivismo japonês são diversas das portuguesas. Terão essencialmente a ver com o manter de características da sociedade feudal anterior à 2.ª guerra mundial, na posterior sociedade industrial.