sábado, fevereiro 04, 2006

AS CARICATURAS DE MAOMÉ

No grão dia singular,
que na lira o douto som
Hierusalém celebrar,
lembrai-Vos de castigar
os ruins filhos de Edom.
Aqueles que tintos vão
no pobre sangue inocente,
soberbos co’ o poder vão,
arraisai-os igualmente:
conheçam que humanos são.

Luís de Camões,
Abel e Sião

Nietzsche compreendeu que Deus deixara de ser enquanto realidade imposta, compreendeu que passara a estar entre nós, em nós, no acompanhar do movimento universal da democratização. Os Mandamentos foram sustituídos, mais tarde, pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. E, nas sociedades ocidentais, a que me refiro, os valores são cada vez mais os que cada um constrói para viver.

O caricaturar do Papa, de Cristo, da Senhora ou dos santos, não é pois tomado como real ofensa àqueles, mas antes num sentido metafórico, essencialmente ligado ao facto que se pretende criticar. Porque não respeitam os muçulmanos esta nossa cultura?

Fez bem a Dinamarca em não apresentar desculpas, fizeram mal alguns menos reflexivos dos nossos em censurar “o ferir a susceptibilidade dos muçulmanos”. Cada comunidade tem a sua cultura que deve ser respeitada certamente. Por isso mesmo, os muçulmanos deveriam aceitar que, na nossa cultura, caricaturar Maomé não contém a intenção de o ofender, de os ofender.

As cenas primitivas a que vimos assistindo por parte das comunidades islamitas só mostram a sua dificuldade em tolerar a diferença, em aceitar a democracia e isto num mundo em globalização e democratização. É um prenúncio do seu estertor, de uma desadequação a este novo mundo, como o é o do terrorismo do Sr. Bin Laden.

Coisas do passado que nos atormentam no presente, é certo. Mas que não são adequadas ao futuro e que por isso não sobreviverão.