terça-feira, outubro 04, 2005

FELGUEIRAS & C.ª E OS COMENTADORES POLÍTICOS

Fui assistindo, no Público, semana após semana, à desilusão que o povo criava em Miguel Sousa Tavares. Não pediu para que se substituísse o povo, mas pouco faltou. A grande maioria dos comentadores acompanhou-o.

Não me perplexifiquei! Antes me pergunto como é possível culpar o povo de votar em pessoas de que gosta e lhe estão próximas, apesar das suspeitas de que não são gente séria, se esse povo foi preparado ao longo dos anos para o fazer? Poderia escrever um livro sobre o laborioso trabalho das elites governantes no pós 25 de Abril feito nesse sentido. E também há, para além de tal esforço, outras razões. Como prefiro ser preguiçoso, dou só uma dica relativamente a cada uma destas vertentes.

Há evidência científica (quem não sabe o que isto é, que se informe!) de os actos dos chefes - das elites, no caso vertente - terem um forte valor simbólico para os subordinados - o povo, no caso vertente -. Assim, o seu comportamento dá as orientações sobre o que estes devem fazer. Em caso de tais actos contrariarem o respectivo discurso verbal, verifica-se que é a mensagem implícita nos actos que tende a prevalecer sobre o discurso. Por exemplo, quando Sócrates nomeia Armando Vara para a CGD, dá sinal de que continuará a não existir o rigor necessário na gestão da coisa pública - coisa que já sabíamos pela insistência sobre a construção do aeroporto da OTA e outros, aliás -, por mais que verbalize que o Governo é em tudo rigoroso.

Mas há também as questões que decorrem do edifício legal em sociedades em mudança acelerada. É que nestas sociedades, em que surgem constantemente situações não previstas, é difícil manter actualizado um edifício legal, com as consequências daí decorrentes. Se juntarmos a este facto o edifício legal existente no 25 de Abril, as políticas de inverdade desde então praticadas pelas elites e a impreparação (e também, muitas vezes, a malandrice) de quem faz as leis, o quadro agrava-se. Um exemplo: o ter-se mantido a SISA em 10% mais de vinte anos após o 25 de Abril, servindo objectivamente os interesses dos lobbies da construção civil (fuga ao IRC), tornou mais de 90% (só?) dos portugueses em infractores fiscais.

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