quarta-feira, outubro 12, 2005

À ATENÇÃO DE RUI RIO: “PORTO COSMPOLITA”

De há uns anos a esta parte tenho vindo a defender o turismo residencial como um dos grandes objectivos estratégicos do país, dadas as vantagens competitivas e sustentáveis existentes. Outros grandes objectivos existem, como seja a exploração adequada dos recursos marítimos e dos recursos florestais, ambos tão mal tratados pela curteza de vistas, mesquinhez e incompetência das classes dirigentes (note-se que esta engloba não são só políticos, mas também representantes do patronato e dos trabalhadores, também eles eternizados e/ou entronizados, grande parte das vezes, nas suas torres de marfim, etc.); mas com eles já muitos despendem o seu tempo.

Já algures apresentei as razões da grande mais valia para o país em massificar o turismo residencial para cidadãos seniores de países europeus. Fui criticado por pretender que se transformasse o país numa nova Florida; fê-lo, indirectamente, um ex-secretário de estado do turismo, possivelmente enleado nas teias de interesses dos lobbies turísticos existentes. Finalmente, nas últimas legislativas, um jornalista do Expresso coloca directamente a questão a António Borges, que se pronuncia a favor deste tipo de turismo. Insisti na ideia em intervenções no blog que entretanto criei − http://aalmanaoepequena.blogspot.com/ − e junto dos gabinetes de Manuel Pinho e de José Sócrates. Vem agora a lume a notícia de que o responsável pelo conselho das cem maiores empresas latinas considera o lançamento do turismo como uma das activdades fulcrais para o desenvolvimento do país.

Constou-me entretanto que o Governo se prepararia para mandar fazer um estudo sobre o tema, que poria a concurso internacional. A ideia seria saber quanto se obteria por cada euro investido no turismo residencial. Ora tal estudo não se justifica, já que qualquer cidadão minimamente habilitado, depois de lhe explicarem do que se trata, com uma meia dúzia de contas constata que se trata de uma actividade altamente rentável. Qual então o objectivo do estudo? Convencer-nos que mais vale gastar dinheiro na OTA? Deixo as especulações a quem me lê.

Introduzida a questão, sou agora a avançar um pouco numa possível forma da sua concretização para lá do Governo, no receio de que com este nada se fará tão cedo. Na realidade trata-se de um projecto, como já referi algures, que pode mobilizar todo o país. Assim sendo, porque não pegarem nele as autarquias?

Ora acontece que a cidade do Porto tem condições ímpares para tirar partido do turismo residencial sénior; sobre o assunto ocorreram-me duas ou três ideias que poderiam simultaneamente enriquecer o Porto e projectá-lo como capital do Norte da Península. Aqui as deixo.

A zona ribeirinha, que se estende desde as Fontaínhas, cerca S. Bento e vai até Massarelos tem de ser reconstruída, o que custará milhares de milhões de euros e levanta dificuldades como seja a do seu repovoamento. Então, porque não expropriar toda essa zona, respeitando os interesses de todos os envolvidos, para seguidamente a dividir em grandes bairros e negociar a reconstrução e exploração de cada um junto de imobiliárias de países escolhidos?

Concretizando: o bairro X seria negociado com uma mobiliária alemã que o reconstruiria no respeito pela sua traça e por outras nossas normas, mas de forma a adequá-lo ao que um casal sénior alemão da classe média espera encontrar no seu lar. Criaria também zonas comuns destinadas a lazer e encontro desses cidadãos, mas abertos ao público em geral. Uma vez feita a reconstrução, a comercialização do seu usufruto e a exploração das diversas zonas comuns ficariam a cargo dessa imobiliária; o seu mercado alvo seria o dos cidadãos seniores alemães. O bairro Y seria negociado com uma empresa imobiliária inglesa em condições similares; o Z a uma escandinava, etc, visando os países frios da Europa com um nível de vida compatível.
Refiro a venda do usufruto, e não da raiz do bem, como meio de embaratecer o custo da habitação, o que permite alargar o mercado alvo, obviamente. E tem também outras vantagens.

O que aconteceria? Em meia dúzia de anos o Porto ficaria com um bairro alemão, um bairro inglês, um bairro escandinavo, etc, cada um com os seus costumes, com as suas formas de lazer. Tal procedimento potenciaria em muito a comercialização das habitações, já que se ofereceria, para além do clima ameno, da proximidade ao país de origem, da localização privilegiada relativamente ao Douro, da nossa gastronomia − ainda que tão mal tratada nos tempos que correm −, etc., já que se ofereceria, dizia, a possibilidade de um inglês ir a uma cervejaria alemã e um alemão ir a um pub inglês (, e nós a ambos…). Tal projecto potenciaria também o turismo não residencial, não só o dos filhos e familiares desses seniores, mas também o dos nossos vizinhos espanhóis atraídos certamente por esse cosmopolitismo.

Muito mais poderia dizer sobre as vantagens de levar avante tal projecto. Não desconheço algumas dificuldades na sua concretização, mas não as enumero, porque entendo dever deixar tal tarefa aos numerosos especialistas em encontrar dificuldades e defeitos que, infelizmente, por aí pululam

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