quarta-feira, julho 06, 2005

TURISMO RESIDENCIAL E O PLANO DE INVESTIMENTOS DE SÓCRATES

Surge a notícia de que Ernâni Lopes terá apresentado no Congresso de turismo um estudo em que recomenda a aposta no turismo senior, sendo o turismo residencial uma sua forte componente. Ao mesmo tempo, Sócrates apresenta o seu plano de investimentos, onde avultam, por falta de imaginação (e a necessidade de a "esquerda" se afirmar através de Estado e obras faraónicas?), a OTA e o TGV.

Ora isto vem na natural forma de ser e pensar, na cultura, das personagens das nossas bem-pensantes élites. Mas contiuna a adiar e agravar(?) o atraso do país, que se debate com uma questão de fundo e com outra conjuntural.

A de fundo, é a necessidade de uma revolução cultural, que o 25 de Abril não fez (e essa poderia ser uma das condições para que pudesse ser considerado, aos olhos dos vindouros, como uma revolução), revolução cultural tendente a emancipar o homem português, que muitos anos depois da morte de Jorge Sena, continua a não cortar o cordão umbilical: depende do Estado, da família, do grupo de amigos de interesse (vulgo, capela, panela, etc.), que pode ser o partido, o clube ou a associação (mais ou menos secreta, mais ou menos religiosa), mas nunca depende dele mesmo! Não se assume e aos seus erros, e por isso não está interessado em aprender.
Ora desde meados dos anos 1980 que muito dinheiro se investiu por esse mundo fora, a estudar culturas e processos de acelerar a sua mudança. Existem exemplos de países que o sabem e procuram fazê-lo. Mas, por cá, isto passa como água em pena de pato, a principal preocupação dos sucessivos ministros da cultura sendo a de como distribuir parcos recursos entre os interesses culturais (alguns serão quase que exclusivamente panelas) que por aí proliferam. "Demora gerações", "O tempo disso se encarregará", etc., afirmações típicas de uma atitude reactiva, e não proactiva, que Hofstede detectou como sendo uma das nossas mais vincadas carcterísticas culturais ...

A outra questão, conjuntural, é a de um país em que a maioria se convenceu de que não é necessário trabalhar para ter benefícios; esta manifestação cultural, em lugar de ter sido contrariada a partir do consulado do agora dito potencial candidato às presidenciais, Sr. Cavaco Silva, foi, pelo contrário, como que promovida por este e subsequentes governantes. O resultado está à vista: a falência a médio prazo. (Como outros, partilho algumas culpas, não por alinhar por tais bitolas, mas porque me calei durante demasiado tempo.) Estamos agora com uma mão de obra não preparada para os modernos desafios, ao mesmo tempo que temos um interessante parque de automóveis de luxo e, pasme-se, um excesso de um milhão de fogos habitacionais!

Dito isto, qual não é o meu espanto, quando o Sr. Sócrates nos vem com a conversa do TGV e da OTA, em lugar de com urgência, pensar em criar condições para promover, com muita força e empenho projectos mobilizadores do país! Na sua entrevista de ontem, não vi quem pensava ser o José Sócrates, mas antes um velho de ideias, preocupadíssimo com "ser de esquerda", nem parecendo que teve 80% dos votos bas bases do PS!

Ora um dos grandes projectos que poderia mobilizar o país - o que seria tão importante seria nesta altura -, e que era particularmente adequado à nossa conjuntura actual, seria o de catapultar o turismo residencial.

As contas são simples: imaginem que se conseguia estabelecer um vasto e bem elaborado plano para atrair cidadãos séniores de países mais ricos da Europa e vender-lhes anualmente uma centena de milhar dos fogos que estão vagos, a um preço médio de 50.000 euros. O encaixe anual seria de 5.000 milhões de euros; acresce a entrada anual dos gastos que cada um desses 100.000 desses cidadãos faria no nosso país e que seria de, pelo menos, 500 milhões de euros no 1.º ano, 1.000 milhões no segundo, 1.500 no terceiro, etc.
O volume de emprego gerado pelos serviços associados seria certamente muito apreciável, e preparar a nossa mão de obra com tal fim, relativamente expedito.
Mas seria também fundamental criar condições para que se procurasse endogeneizar aspectos culturais e saberes dos cidadãos que acolheríamos, com o que, quer eles, quer o nosso país, muito lucrariam.
Há certamente múltiplas formas de levar avante com sucesso um tal plano. Mas ele necessita certamente de mente aberta, boas cpacidades de gestão e apreciáveis investimentos em áreas chave.

Aos muitos que dirão que sou ingénuo, eu respondo que recuso a reactividade dos bem pensantes deste país em aceitar as receitas de sempre, atitude que nos conduziu à situação em que estamos hoje; que prefiro a proactividade; que prefiro que construamos com fé, mobilização e empenho um futuro que nos emancipe como cidadãos do mundo.

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