sábado, julho 16, 2005

A QUESTÃO DA AUTO-ESTIMA

Não seria mau que os portugueses reflectissem um pouco, não sobre o nível da sua auto-estima, mas antes sobre o que tencionam fazer com ela.

Jorge Bucay, eminente psiquiatra argentino, da corrente gestáltica, propõe que auto-estima não seja entendida como o grau de apreço em que nos temos, mas antes a avaliação que fazemos de nós mesmos. Ou seja, estimar seria avaliar.

As consequências seriam em meu entender mais interessantes que as decorrentes da primeira e mais vulgar acepção. Efectivamente o grau de apreço em que nos temos, decorre inevitavelmente de uma prévia avaliação do nosso ser. Só depois de tal avaliação estabelecemos o grau de apreço que as conclusões decorrentes nos merecem. E este estabelecer é certamente condicionado pelo nosso ser: quaisquer que sejam as conclusões a que chegarmos, o nosso ser pode aceitá-las melhor ou pior, reagir positiva ou negativamente a elas.

A ser assim, é errado ignorar os resultados da autoavaliação, saltando desde logo para o estado de espírito subsequente. Há que haver consciência deles e da questão que, de seguida, se deve colocar: o que vamos fazer com eles? O são, aceita o que é e usa o diagnóstico para procurar melhorar. O débil, soçobra a resultados que crê serem fracos e remói-se na inactividade: “ao que eu cheguei…”.

O “varrer para debaixo do tapete” os resultados da autoavaliação é atitude típica da nossa cultura, da nossa não proactividade racional. Ora sem a consciência do diagnóstico, onde buscar o remédio?

E fica-me uma questão: o diagnóstico incomoda mais as elites que nos têm guiado ou os portugueses em geral? Ou melhor: o diagnóstico incomoda mais os mentores de tais elites ou os portugueses em geral?

E se os casos “Fátima Felgueiras”, “Avelino Ferreira Torres”, etc., etc., não forem meros episódios, mas antes são afloramentos daquilo que os portugueses realmente pensam de tais elites? E se os portugueses não acreditarem que nessas há menos de 10% de corruptos? Se assim fosse, os portugueses perguntar-se-ão inevitavelmente sobre o que distingue realmente a Sr.ª Fátima Felgueiras, o Sr. Avelino Ferreira Torres, etc., etc., da grande maioria dos membros de tais elites, e eu compreenderia melhor tais afloramentos(?).

Acredito que sem uma mudança radical da mentalidade dos mentores dessas elites - e estes não são certamente, na sua grande maioria, corruptos -, quiçá, sem a substituição de tais mentores, a sobrevivência portuguesa está a prazo.

Sem comentários: