sexta-feira, julho 29, 2005
























Desespero
Maria Cerveira
MORTE

Zenão parava, ardilosamente, o tempo para que Aquiles não ultrapassasse a tartaruga.

Por esta Europa fora há também quem se afadigue em parar o tempo, para não ser ultrapassado. Só que o parar do tempo é a morte.

quinta-feira, julho 28, 2005

CULTURA E ECONOMIA

Há anos que defendo que, para conseguir uma melhor governação do país, havia que atentar mais na nossa cultura, ou seja, na nossa forma de pensar e de fazer as coisas no dia-a-dia social, político, económico. Escrevi cartas e cartas, quantos artigos propus!
Agora alguns senhores políticos e muitos jornalistas começam finalmente a descortinar ao que eu vinha.

Estou contudo em crer que, entre esses neófitos, muitos, que andavam incomodados com os maus resultados conseguidos por si e pelos seus pares, tomaram a descoberta como um bode expiatório: afinal a culpa não é deles e dos amigalhaços, mas antes da cultura nacional. Que alívio para as suas consciências, até porque, afinal, a cultura deles é outra!
REFLEXO

Sempre que me barbeio vejo-o no espelho.
Um dia, pergunto-lhe: "Quem és?".
Ele fita-me nos olhos e cita Pessoa: "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. Para além disso, ..."
A questão salta: "E bastam os sonhos?!"
Estou e não estou nos tempos que correm.

domingo, julho 24, 2005

AUTÁRQUICAS

As duas grandes opções que se colocam aos eleitores:

TGVOTA ou NÃOTGVOTA.
"SEDE PRÓXIMOS MAS NÃO MUITO, PORQUE O CASTANHEIRO NÃO CRESCE À SOMBRA DA AZINHEIRA"
Dizer árabe
PRESIDENCIÁVEIS - 5

Com a candidatura de Mários Soares, lá vou eu engolir uns sapos e votar em Cavaco Silva...

sexta-feira, julho 22, 2005

QUIERO

Quiero que me oigas sin juzgarme
Quiero que opines sin aconsejarme
Quiero que confies en mí sin exigirme
Quiero que me ayudes sin intentar decidir por mí
Quiero que me cuides sin anularme
Quiero que me mires sin proyetar tus cosas en mí
Quiero que me abraces sin asfixiarme
Quiero que me animes sin empujarme
Quiero que me sostengas sin hacerte cargo de mi
Quiero que me protejas sin mentiras
Quiero que te acerques sin invadirme
Quiero que conozcas las cosas mías que más te disgusten
Que las aceptes y no pretendas cambiarlas
Quiero que sepas... que hoy puedes contar conmigo...Sin condiciones.

Jorge Bucay, "Cuentos para pensar", RBA Libros, SA, 2002, Barcelona
MARXETING

"De cada um conforme as suas capacidades, a cada um conforme as suas necessidades".

O marketing é o conjunto de metodologias que procura tratar da segunda destas afirmações.
MARX E E-BIZ

O e-biz, vulgo comércio electrónico entre empresas e entre estas e os consumidores, tende a estabelecer uma rede de clientes/fornecedores que permitirá criar uma planificação flexível das actividades económicas... com iniciativa privada!

Assim morreu a velha utopia da planificação centralizada.
CAMPOS E CUNHA E AUTÁRQUICAS

Desconfio de que o avançar com os megaprojectos da OTA e da alta velocidade - devo dizer que não rejeito este último sem um estudo, sério, que tenha em conta as alterações no quotidiano a provocar pela inexorável subida do preço do petróleo, na próxima década -, desconfio, dizia, que tais projectos são uma exigência vesga do aparelho do PS, que alega ser necessário aplacar os "lobbies" esfaimados, para que ajudem os seus autarcas a assegurar vitórias nas próximas autárquicas.

Ora estou em crer, que os votantes já não são o que eram, que estão alerta para tais conúbios, pelo que reagirão de forma diversa. Estou mesmo convencido que a "expulsão" de Campos e Cunha já fez com que o PS perdesse, esta semana, pelo menos uns 5% de intenções de voto... Mas também estou em crer que, misturados com tais vesgos, há naquele aparelho quem saiba o que realmente vai acontecer, mas que alimente tal crença porque quer encher os bolsos.

Até agora tinha José Sócrates na conta de uma pessoa séria e inteligente. Mas o acreditar que com tais medidas que vai manter ou ganhar mais uns votos nas autárquicas, é um enorme erro político. O povo aceita as restrições, até mais se necessárias forem, mas não aceitará sacrificar-se para depois se esbanjar o dinheiro com "os senhores do costume". Persistir nesta via poderá levar a que o PS desapareça do mapa das autarquias. O que, face a muitos dos candidatos que propõe, talvez não fosse assim tão mau.

quarta-feira, julho 20, 2005

Leitura
Maria Cerveira
GENTE DE NOMEADA

Se pudesse comprar os gestores e os políticos que por aí andam pelo seu valor real, e vendê-los depois por aquilo que eles próprios acham que valem, não precisava de jogar no euromilhões.

O QUE ELES QUEREM OUVIR

Se os outros te merecem respeito, diz-lhes não o que eles querem ouvir, mas o que realmente pensas.

C. Marques Pinto
VENTOS E TARIFAS

Dizem-me que a questão da demora na aprovação dos parques eólicos não depende tanto do pseudo-fundamentalismo dos técnicos minsteriais do ambiente, mas mais da tarifa a que a EDP terá de comprar o kwhr, muito mais elevada do que está habituada a pagar a França.

Alguém me esclarece esta perplexidade?
ALBERTO JOÃO E XENOFOBIA

O vesgo dos intelectualóides de esquerda e de alguns políticos a seu reboque, como o exemplo recente do Sr. Marques Mendes, ameaça expandir a xenofobia, contrariamente ao que dizem.

Senão, vejamos. Alberto João diz em voz alta o que grande parte dos portugueses pensa:

a) que a globalização, ao permitir a concorrência a nível internacional dos países menos desenvolvidos com os mais desenvolvidos, cria dificuldades conjunturais aos últimos, que se manifestam em dificuldades na vida do dia a dia das suas populações (até aqui estou de acordo com eles);

b) seguidamente inferem que é necessário fechar fronteiras para continuar a estarmos benzinho [ e esses povos que se lixem?, pergunto eu].

Ora isto não é xenofobia e parece-me politicamente indesejável transportar a discussão para tal campo. Há que haver a coragem de colocar as coisas nos seus devidos lugares e que debatê-las publicamente. Ou preferem varrer para debaixo do tapete, assobiar para o ar, e depois queixarem-se de que não há participação democrática? Já se esqueceram das razões do recente não francês ao tratado da UE? Quando acabam os políticos europeus com essa tradição paternalista dos intelectuais ditos de esquerda, que vai ajudando a matar a nossa Europa?
OS ESCOLHOS DE MARCELO

Proponho publicamente à RTP que passe a designar assim o programa dominical de Marcelo Rebelo de Sousa.

Na realidade, todo o programa parece cada vez mais centrado no seu ego, o que torna mais razoável o termo "escolho!" (plural: escolhos) que "escolha".

Depois, porque o contraste com o programa de António Vitorino, Notas Soltas, à 2.ª feira, no mesmo canal ameaça tornar-se num escolho para Marcelo.
PRESIDENCIÁVEIS - 4

No passado Domingo, no seu programa As escolhas de Marcelo, na RTP, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa presenteou-nos com um novo facto político, desta vez sem aquele seu genuíno tirar o coelho da cartola.

Ele era apagar a possibilidade de uma candidatura de Freitas do Amaral e propor à esquerda a candidatura da Mário Soares. Demasiado explicitamente, vinha também o recado a Sócrates: "Apoias a candidatura de Mário Soares [que já sabes perdedora perante Cavaco Silva] e assim livras-te do Manuel Alegre. Desta forma ficas com Cavaco, que é o homem que te convém."

Mas Marcelo não estava decidamente nos seus dias e tudo pareceu demasiado baço e pouco credível.

Há duas grandes questões em torno da candidatura de Freitas à Presidência da República: uma, a de se seria neste momento um bom Presidente para o país; a outra, a de se seria uma candidatura ganhadora.

Quanto à primeira, o seu lastro cultural, a honestidade do seu perfil intelectual, a sua experência internacional, a sua independência política, a sua boa relação com Sócrates, a sua firmeza e o seu sentido de serviço, parece coadunarem-se com as exigências do cargo neste momento.

Quanto às chances de vitória de tal candidatura, talvez lhe sejam também mais favoráveis. O cenário mais provável seria o de existir uma candidatura à esquerda (Manuel Alegre?) e a de Cavaco Silva (que parece pretender ser o D. Sebastião dos tempos que por cá correm). Manuel Alegre teve os votos que teve nas eleições internas do PS e terá mais alguns de partidos à esquerda deste. Cavaco terá os dos trauliteiros da direita (que os não trauliteiros são mais avisados) e os de todo, ou pelo menos uma boa franja, do PSD. Neste quadro, parece razoável esperar que Freitas passe a uma segunda volta. Ora não parece credível que, então, os votos mais à esquerda se desloquem para Cavaco Silva.

Será que Sócrates assim entende, ou também aqui estará preso à máquina partidária, como mais uma vez o demonstrou na recente nomeação do candidato às autárquicas de Matosinhos?

sábado, julho 16, 2005

ENTROPIA, AMOR E DISCÓRDIA

Os físicos usam a entropia para distinguir entre o amor e a discórdia.

C. Marques Pinto
A QUESTÃO DA AUTO-ESTIMA

Não seria mau que os portugueses reflectissem um pouco, não sobre o nível da sua auto-estima, mas antes sobre o que tencionam fazer com ela.

Jorge Bucay, eminente psiquiatra argentino, da corrente gestáltica, propõe que auto-estima não seja entendida como o grau de apreço em que nos temos, mas antes a avaliação que fazemos de nós mesmos. Ou seja, estimar seria avaliar.

As consequências seriam em meu entender mais interessantes que as decorrentes da primeira e mais vulgar acepção. Efectivamente o grau de apreço em que nos temos, decorre inevitavelmente de uma prévia avaliação do nosso ser. Só depois de tal avaliação estabelecemos o grau de apreço que as conclusões decorrentes nos merecem. E este estabelecer é certamente condicionado pelo nosso ser: quaisquer que sejam as conclusões a que chegarmos, o nosso ser pode aceitá-las melhor ou pior, reagir positiva ou negativamente a elas.

A ser assim, é errado ignorar os resultados da autoavaliação, saltando desde logo para o estado de espírito subsequente. Há que haver consciência deles e da questão que, de seguida, se deve colocar: o que vamos fazer com eles? O são, aceita o que é e usa o diagnóstico para procurar melhorar. O débil, soçobra a resultados que crê serem fracos e remói-se na inactividade: “ao que eu cheguei…”.

O “varrer para debaixo do tapete” os resultados da autoavaliação é atitude típica da nossa cultura, da nossa não proactividade racional. Ora sem a consciência do diagnóstico, onde buscar o remédio?

E fica-me uma questão: o diagnóstico incomoda mais as elites que nos têm guiado ou os portugueses em geral? Ou melhor: o diagnóstico incomoda mais os mentores de tais elites ou os portugueses em geral?

E se os casos “Fátima Felgueiras”, “Avelino Ferreira Torres”, etc., etc., não forem meros episódios, mas antes são afloramentos daquilo que os portugueses realmente pensam de tais elites? E se os portugueses não acreditarem que nessas há menos de 10% de corruptos? Se assim fosse, os portugueses perguntar-se-ão inevitavelmente sobre o que distingue realmente a Sr.ª Fátima Felgueiras, o Sr. Avelino Ferreira Torres, etc., etc., da grande maioria dos membros de tais elites, e eu compreenderia melhor tais afloramentos(?).

Acredito que sem uma mudança radical da mentalidade dos mentores dessas elites - e estes não são certamente, na sua grande maioria, corruptos -, quiçá, sem a substituição de tais mentores, a sobrevivência portuguesa está a prazo.

quinta-feira, julho 14, 2005

PECADO ORIGINAL

Anátema de milhões, que ardem na culpa forjada pelos sem fé; maçã vermelha de Eva - como se algum conhecimento fosse proibido aos filhos do Cosmos -; pai de Abraão e dos seus filhos.

Cerceias a liberdade, negas a responsabilidade, escravizas com a imaginada culpa. Recusas a alegria, o amor, a luz que os funde no Cosmos. E só deixas as penas de não viverem, de não serem, de serem o que aos tiranos convém.

E ao fim de tanto tempo, se é que nisto há tempo, continuas a ser original!
TRAVESSURA


Encontrei o meu amor,
Vinha ele a cavalicoque.
Endireitei-me todo...
Levei um piparote.

Cloc, cloc, cloc.
Cavalicoque.
Bop
Piparote!

C Marques Pinto
PRESIDENCIÁVEIS - 3

Cavaco Silva foi um sofrível primeiro-ministro. Mesmo assim foi o melhor primeiro-ministro que Portugal teve desde os anos 1980 (1).

Técnico sério, mas sem o lastro cultural que possibilita a visão e a abrangência que se requer a um Presidente da República.

(1) Quanto a Sócrates, ainda é cedo para comparações, embora os sinais de "muda o disco e toca o mesmo" possam indiciar falta de visão e de capacidade de liderança. A ver vamos!
SÓCRATES, SAMPAIO, PLANO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO

Hoje ouvi Sócrates fazer uma pequena inflexão de discurso, dando a entender que o plano tecnológico há muito que devia ter avançado, mas só agora vai realmente arrancar (com as mais que benesses da PT?).

Após meses a apresentar a inovação e o plano tecnológico como suportes de pretensas vantagens competitivas, agora Sócrates reconhece a evidência: são pura e simplesmente necessidades dos tempos que correm.

As maiores vantagens competitivas estão nas pessoas. Se não temos líderes à altura de as aproveitarem, pois bem, IMPORTEMO-LOS! Mas que não sejam provincianos como os que por aí andam a afirmar as suas pseudo-competências com grandes carripanas e outros pechibeques.

E há outras vantagens competitivas, que só não são afirmadas porque não convêm aos interesses instalados. Conúbios economico-políticos, ou melhor, conúbios grupos económicos-partidocratas...

quarta-feira, julho 13, 2005

RUI RIO E SONDAGENS

Constato que tinha razão, quando há uns três anos, previa sucesso para a estratégia política de Rui Rio: as recentes sondagens dão-lhe 55% dos votos. Fica provado, espero, que se pode ser sério e separar as águas com os caciques do futebol e outros, sem perder votos .

Mas , mais que ser sério, Rui Rio respeitou a inteligência dos portuenses: sabia que eles eram capazes de discernir. Infelizmente tal não acontece com a maioria dos politicóides que por aí anda, que provavelmente consideram estúpidas as suas "plateias" e incapazes de ver o que lhes vai na alma.

E fico a pensar no que diria, se acaso fosse do "clube" PSD ... Mas não sou! E nem sequer voto no Porto. Infelizmente!

Maternidade
Maria Cerveira Posted by Picasa
LIDERANÇA

Dica com 2.000 anos para líderes de organizações da Nova Economia: "Fazei do melhor entre vós, vosso servo".

Mas porque sujeitar o melhor às necessidades dos outros? Porque não deixá-lo ganhar asas e voar? Culturas?
SABEDORIA

O sábio tem a sensatez de aceitar o mundo tal como é, e a insensatez de procurar torná-lo melhor.

C. Marques Pinto
OUSE, SR. PRIMEIRO MINSTRO!


Ouse mobilizar Portugal em torno de um projecto que mobilize toda a Nação, evite jogar nas tradicionais e duvidosas obras megalómanas, a pretexto de que arrastam o desenvolvimento da economia, principalmente numa OTA, em que os preços do petróleo, daqui a una 10 anos poderão pôr em causa. Insistirá V. Ex.ª em querer investir os sacrifícios que a todos pede em tal "casino"?

E contudo, V. Ex.ª pode transformar o turismo residencial num projecto mobilizador das gentes deste país, se nesse sentido ousar encaminhar-nos.

Desde logo temos condições excelentes para abordar o mercado dos países frios europeus: temos talvez o clima mais ameno da Europa e estamos a 2 ou 3 horas de distância; temos um excessivo parque residencial que temos de rentabilizar, embora tendo que recuperar parte dele; temos uma mão de obra que facilmente se formará nas aptidões que a tal são necessárias.

Crie V. Ex.ª condições para que a sociedade civil arranque com mil e um projectos no sentido de fixar em Portugal, nos próximos dez anos setecentos ou oitocentos mil desses cidadãos. Crê-me lunático? Julgo que não. É tudo uma questão da forma de fazer as coisas. Venda-se não as residências, mas o seu usufruto, por preço barato e prazo limitado. Crie-se condições para que seja a banca nacional a financiar essas aquisições, em troco de garantias a exigir aos compradores estrangeiros. Modernize-se a saúde, que para os seniores é importante; melhora-se a segurança de pessoas e bens; aumente-se a oferta e a animação cultural; ofereça-se aos compradores que a tal estejam aptos, que participem no desenvolvimento do nosso país; criem-se os incentivos tendentes à miscigenação cultural.

Compreendo que a ideia possa não agradar a quantos se não sentem capazes de a levar em frente, nem aos que confundem este projecto com o aluguer de camas e ficam temerosos das suas consequências nos seus negócios, o que é obviamente errado. Mas se queremos ir frente, e não ao fundo, é preciso ousar, o que não é, como cada vez mais povo sente, a construção de uma OTA.

A ver vamos!

quarta-feira, julho 06, 2005

TURISMO RESIDENCIAL E O PLANO DE INVESTIMENTOS DE SÓCRATES

Surge a notícia de que Ernâni Lopes terá apresentado no Congresso de turismo um estudo em que recomenda a aposta no turismo senior, sendo o turismo residencial uma sua forte componente. Ao mesmo tempo, Sócrates apresenta o seu plano de investimentos, onde avultam, por falta de imaginação (e a necessidade de a "esquerda" se afirmar através de Estado e obras faraónicas?), a OTA e o TGV.

Ora isto vem na natural forma de ser e pensar, na cultura, das personagens das nossas bem-pensantes élites. Mas contiuna a adiar e agravar(?) o atraso do país, que se debate com uma questão de fundo e com outra conjuntural.

A de fundo, é a necessidade de uma revolução cultural, que o 25 de Abril não fez (e essa poderia ser uma das condições para que pudesse ser considerado, aos olhos dos vindouros, como uma revolução), revolução cultural tendente a emancipar o homem português, que muitos anos depois da morte de Jorge Sena, continua a não cortar o cordão umbilical: depende do Estado, da família, do grupo de amigos de interesse (vulgo, capela, panela, etc.), que pode ser o partido, o clube ou a associação (mais ou menos secreta, mais ou menos religiosa), mas nunca depende dele mesmo! Não se assume e aos seus erros, e por isso não está interessado em aprender.
Ora desde meados dos anos 1980 que muito dinheiro se investiu por esse mundo fora, a estudar culturas e processos de acelerar a sua mudança. Existem exemplos de países que o sabem e procuram fazê-lo. Mas, por cá, isto passa como água em pena de pato, a principal preocupação dos sucessivos ministros da cultura sendo a de como distribuir parcos recursos entre os interesses culturais (alguns serão quase que exclusivamente panelas) que por aí proliferam. "Demora gerações", "O tempo disso se encarregará", etc., afirmações típicas de uma atitude reactiva, e não proactiva, que Hofstede detectou como sendo uma das nossas mais vincadas carcterísticas culturais ...

A outra questão, conjuntural, é a de um país em que a maioria se convenceu de que não é necessário trabalhar para ter benefícios; esta manifestação cultural, em lugar de ter sido contrariada a partir do consulado do agora dito potencial candidato às presidenciais, Sr. Cavaco Silva, foi, pelo contrário, como que promovida por este e subsequentes governantes. O resultado está à vista: a falência a médio prazo. (Como outros, partilho algumas culpas, não por alinhar por tais bitolas, mas porque me calei durante demasiado tempo.) Estamos agora com uma mão de obra não preparada para os modernos desafios, ao mesmo tempo que temos um interessante parque de automóveis de luxo e, pasme-se, um excesso de um milhão de fogos habitacionais!

Dito isto, qual não é o meu espanto, quando o Sr. Sócrates nos vem com a conversa do TGV e da OTA, em lugar de com urgência, pensar em criar condições para promover, com muita força e empenho projectos mobilizadores do país! Na sua entrevista de ontem, não vi quem pensava ser o José Sócrates, mas antes um velho de ideias, preocupadíssimo com "ser de esquerda", nem parecendo que teve 80% dos votos bas bases do PS!

Ora um dos grandes projectos que poderia mobilizar o país - o que seria tão importante seria nesta altura -, e que era particularmente adequado à nossa conjuntura actual, seria o de catapultar o turismo residencial.

As contas são simples: imaginem que se conseguia estabelecer um vasto e bem elaborado plano para atrair cidadãos séniores de países mais ricos da Europa e vender-lhes anualmente uma centena de milhar dos fogos que estão vagos, a um preço médio de 50.000 euros. O encaixe anual seria de 5.000 milhões de euros; acresce a entrada anual dos gastos que cada um desses 100.000 desses cidadãos faria no nosso país e que seria de, pelo menos, 500 milhões de euros no 1.º ano, 1.000 milhões no segundo, 1.500 no terceiro, etc.
O volume de emprego gerado pelos serviços associados seria certamente muito apreciável, e preparar a nossa mão de obra com tal fim, relativamente expedito.
Mas seria também fundamental criar condições para que se procurasse endogeneizar aspectos culturais e saberes dos cidadãos que acolheríamos, com o que, quer eles, quer o nosso país, muito lucrariam.
Há certamente múltiplas formas de levar avante com sucesso um tal plano. Mas ele necessita certamente de mente aberta, boas cpacidades de gestão e apreciáveis investimentos em áreas chave.

Aos muitos que dirão que sou ingénuo, eu respondo que recuso a reactividade dos bem pensantes deste país em aceitar as receitas de sempre, atitude que nos conduziu à situação em que estamos hoje; que prefiro a proactividade; que prefiro que construamos com fé, mobilização e empenho um futuro que nos emancipe como cidadãos do mundo.

domingo, julho 03, 2005

GRANDEZA E DISTÂNCIA

Leio, de Pessoa (Ricardo Reis, Odes),

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.",


e pergunto-me se a lua não seria ainda maior se perto estivesse e de tal forma que o pequeno lago toda ela contivesse?